PDH e Defensoria Pública discutem violência doméstica contra a mulher

Goiás é um estado marcado pelos indicadores de violência contra a mulher. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (2019), o estado goiano lidera o ranking dos casos de estupro: para cada 10 mil habitantes, cerca de 620 ocorrências são registradas.

Ciente deste contexto, que se agravou com a pandemia da Covid-19, o Programa de Direitos Humanos da PUC Goiás (PDH), por meio do Programa de Estudos Interdisciplinares da Mulher (Pimep), promoveu uma mesa-redonda com representantes da Defensoria Pública Estadual, na última segunda-feira, 13, na Escola de Ciências Sociais e da Saúde (Eciss), reunindo estudantes do curso de Psicologia, Serviço Social e Direito.

De acordo com a coordenadora do PDH, profa. Núbia Simão, discutir a violência em Goiás demarca um movimento de conscientização, que vem da luta do 8 de março (Dia Internacional da Mulher) e, ao mesmo tempo, instiga a universidade a refletir os indicadores sociais e como a mulher em situação de violência pode buscar assistência de forma efetiva.

A docente destacou que, apesar de ser um tema corriqueiro, muitas informações precisam ser compartilhadas, principalmente,  com as vítimas. Neste sentido, tipificar as formas de violência e articular os órgãos que atuam na defesa e assistência à mulher é uma forma de reverter esse quadro e transformar a sociedade.

“Muitas mulheres não sabem que são violentadas cotidianamente. Temos a violência psicológica, financeira, material e tudo isso está tipificado na Lei Maria da Penha. Estamos em um movimento de construção de pesquisas, de conscientizar a mulher e de como ela terá acesso a uma defesa ou advogado(a), que possa ajudá-la com cobrança de direitos e posicionamento social”, refletiu.

A culpa nunca é da vítima

Estância na qual as pessoas em situação de vulnerabilidade social acessam os seus direitos, a Defensoria Pública tem um papel imprescindível no combate à violência doméstica contra a mulher.

A advogada e assessora jurídica do Núcleo Especializado de Defesa e Promoção dos Direitos da Mulher (Nudem), vinculado à Defensoria Pública do Estado de Goiás, Anny Borges, participou do debate e pontuou que a discussão da pauta na esfera acadêmica é relevante e urgente, já que precisa reverberar na sociedade.

Ela afirmou que o Nuden busca ter um diálogo mais intimista com mulheres em situação de violência e trazer o esclarecimento de que a vítima nunca tem culpa de nada: “vivemos em uma sociedade machista, patriarcal, e isso faz com que a mulher se sinta presa neste relacionamento e dificulte o processo para que ela saia. Quanto mais pessoas dizem  que não é culpa dela e buscar os direitos é o mínimo, não conseguimos ir para horizontes mais felizes”, alertou.

Coordenadora do Pimep, a docente Luciene Falcão trouxe uma contribuição científica ao evento. Ela defendeu com êxito, na última semana, tese de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC, intitulada A epidemia na pandemia: análise ecológica em processos de violência doméstica contra a mulher no município de Goiânia

Segundo a pesquisadora, a pandemia escancarou mazelas que estavam implícitas na sociedade há anos e a violência doméstica contra a mulher foi uma delas. Neste sentido, ela pontuou que o papel da academia é preparar o estudante para prevenção e remediação dos casos.

“É essencial que o estudante saiba acompanhar um caso nas diversas áreas da ciência e que a gente possa dialogar, viver numa sociedade de paz e, sobretudo, aprender que existem diferenças entre homens e mulheres, todavia elas não podem ser levadas para a violência”, refletiu.

Também compuseram a mesa-redonda, a defensora pública estadual Bárbara Lara Garcia e a docente Karina Leite Insuela Garcia. A coordenadora do curso de Psicologia, Lila Spadoni e a diretora da Eciss, Juliany Gonçalves Guimarães partilharam palavras de acolhida e boas-vindas com o público.

Fotos: Ana Paula Abrão