Simpósio mobiliza mais de 7 mil participantes

Cerca de 7.500 pessoas participaram dos quatro dias de programação do IV Simpósio Luso-Brasileiro de Estudos da Criança, encerrado na noite desta sexta-feira, 24, no Auditório da Escola de Formação de Professores e Humanidades (EFPH) da PUC Goiás. O último dia de encontro em Goiânia foi marcado pela reflexão sobre os retrocessos para os direitos da criança e ações de resistência e de esperança para enfrentá-los. Pesquisadores brasileiros e portugueses da Universidade do Minho (Portugal) responsáveis pela organização do evento também comemoraram o crescimento do simpósio e o avanço nas discussões, pautas pelo tema Por uma luta sem fronteiras na defesa dos direitos das crianças.

Criado em 2012, o simpósio teve sua primeira edição realiza em Braga, em Portugal, com 140 participantes. Nesta edição, movimentou 7.500 que estiveram em atividades científicas e culturais recebidas pela PUC Goiás, pela Faculdade de Educação (FE) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) desde a última terça-feira, 22. As atividades abertas ao público reuniram cerca de 4.600 participantes.

Só na abertura, recebida pelo Centro de Convenções PUC, estiveram 1.000 professores da rede pública de Goiás. A comissão científica que selecionou os trabalhos apresentados contou com a colaboração de 160 integrantes. Nos quatro dias de simpósio, foram 347 apresentações de comunicação com 78 mediadores assistidas por um público de 1.660 pessoas. Já as sessões de cinema reuniram 140 espectadores.

O simpósio também deu voz à meninada. Na segunda-feira, 21, teve sua programação precedida pelo I Encontro das Crianças, que contou com a participação da Escola de Circo Dom Fernando e do Centro Comunitário de Meninas e Meninos (Cecom).

Em balanço, os organizadores refletiram sobre o histórico do simpósio e as discussões realizadas em sua quarta edição. “Continuamos a tratar daquilo que nos incomoda, [o evento] nos ajudou a pensar saídas”, ponderou a profa. Leni Vieira Dorneles, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS).

Ao final, foi lida a Carta a Goiânia, documento redigido por pesquisadores da UFGRS, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), do Mato Grosso do Sul (UFMS), da UEG, da PUC Goiás, representada pelo diretor da Escola de Formação de Professores e Humanidades (EFPH), prof. Romilson Siqueira, e da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME).

Retrocesso e resistência

A conferência de encerramento do simpósio refletiu a respeito da luta em defesa das crianças no contexto atual, de retrocessos de direitos.  Diretora do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (CIESPI) da PUC-Rio, a profa. Irene Rizzini – referência mundial nos estudos sobre criança – salientou que o movimento pelos direitos das crianças “é uma defesa de todos nós”.

Emocionada e incorporando à apresentação as vivências dos quatro dias de simpósio, ela dimensionou retrocessos “importantes” às conquistas obtidas de 1980 – no pós-ditadura – até os tempos atuais. “Não podemos falar de diretos humanos se não há direitos para crianças”, alertou.

Entre os retrocessos apontados pela pesquisadora, a redução do número de famílias que recebem o Bolsa Família, programa de transferência de renda do Governo Federal que, conforme lembrou Irene tem um importante papel na nutrição das crianças e na redução do trabalho infantil. “De 2014 a 2017 menos 1,5 milhão de famílias perderam a Bolsa Família. É um programa que elevou da linha da pobreza 40 milhões de famílias”, dimensionou. “A questão crucial é a dificuldade de acesso à renda”, acrescentou. Ela citou ainda o aumento da mortalidade infantil pela primeira vez, depois de 20 anos; e a manutenção das disparidades sociais entre raças.

Irene Rizzini partilhou ainda “ações e gestões, resistências locais” que trazem esperança aos que lutam por direitos das crianças. Entre eles, o Movimento dos Sem terra (MST) Criança, que teve seu primeiro encontro em julho; o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e o movimento de Ocupa, que “deixou sementes belíssimas nas escolas”. Ela apontou ainda o Never Again, nos Estados Unidos, grupo que mobiliza crianças e adolescentes contra o porte de armas.

A programação do Simpósio Luso-Brasileiro termina oficialmente neste sábado, 25, com visitas de pesquisadores às cidades de Goiás, Caldas Novas e Pirenópolis.

Fotos: Ana Paula Abrão