Semana dos Povos Indígenas debate preservação do Cerrado

A preservação do Cerrado passa pelo aprendizado com povos tradicionais, como os indígenas, que têm uma relação espiritual com o bioma, defendeu o presidente da Pastoral Social da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Guilherme Antônio Werlang, durante a abertura da Semana dos Povos Indígenas da PUC Goiás. “Precisamos mudar a nossa relação com a terra, reaprender com os indígenas que não têm uma relação mercantilista, mas de filhos para com sua mãe”, explicou.

O evento começou na noite desta terça-feira (18), com a conferência Povos Indígenas, Territórios e Biomas: Berços de Vida, Lutas e Esperança, ministrada pelo religioso no Auditório da Escola de Formação de Professores e Humanidades (EFPH), no Setor Leste Universitário. A abertura também faz alusão ao Dia do Índio, celebrado em 19 de abril e o tema debatido integra as reflexões da Campanha da Fraternidade 2017. A Semana é organizada há mais de três décadas pelo Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) da universidade. A programação continua durante a Jornada da Cidadania, de 24 a 27 de maio, e termina em evento no dia 1º de junho.

Dom Guilherme explicou que o cerrado brasileiro já atingiu sua maturidade, assim, espécies animais e vegetais podem desaparecer para sempre. “O Cerrado chegou ao clímax da maturidade. Se derrubar, não volta mais. Temos muitos tipos de vegetais e uma pequena parte consegue se reproduzir em cativeiro porque a semente que cai na terra precisa passar pelo sistema digestivo de animais desse bioma, que acabam mortos por causa do cultivo de lavouras”, exemplificou.

Para ele, a preservação do bioma passa por uma revisão de posturas diante do consumo e uma reavaliação dos conceitos de desenvolvimento e progresso. “Papa Francisco alerta que hoje é o deus dinheiro quem manda e nós nos ajoelhamos diante dele. É em nome do capital que estamos destruindo o meio-ambiente. Ou vamos à escola dos povos tradicionais, ou estamos condenados à destruição”, frisou.

Além de dom Guilherme, o educador Sinvaldo Oliveira Wahuka, compartilhou as relações de seu povo – os Carajás, hoje chamados de Iny – com o Cerrado. “A nossa crença, a nossa religião, está ligada a esse bioma, em todo território nacional. É ele que nos dá vida, alimento, abrigo, remédio”, afirma, citando a importância da conscientização da população para a em geral para a preservação do Cerrado.

Programação
A diretora do IGPA, profa. Eliane Lopes, explica que neste ano a Semana dos Povos Indígenas ocorre em três momentos. Após a conferência de abertura, a programação segue durante a Jornada da Cidadania, de 24 a 27 de maio, no Câmpus II da instituição. As atividades estarão concentradas na Aldeia Timbira, no Memorial do Cerrado, e no Bloco G, com oficinas, mesas-redondas, apresentações de trabalhos e experiências interativas. Haverá uma mostra de cinema indígena, seguida de sessão de debates com lideranças. A experiência da Yandê, primeira web rádio indígena do Brasil, será compartilhada. Também ocorrerá uma oficina de arquitetura.

O encerramento da Semana será no dia 1º de junho, com a apresentação de um projeto do IGPA que envolve a qualificação de imagens indígenas, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Há mais de 30 anos o IGPA promove a Semana, junto com seus parceiros, é um momento pode trazer para a universidade uma reflexão sobre os desafios da população indígena e nesta edição, de uma forma particular, dialogando com o tema da Campanha da Fraternidade”, declara.

Representando o reitor Wolmir Amado, a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, profa. Milca Severino, destacou a experiência de dom Guilherme para debater o assunto. “Certamente vocês, estudantes, vão acompanhar profundos ensinamentos dos povos indígenas, dos biomas, da nossa história, olhando para o retrovisor, mas, o mais importante, o que podemos fazer para que nosso país seja um lugar melhor”, destacou.

Alunos do curso Pré-Universitário, do Cajueiro, estiveram presentes na abertura do evento. Já os voluntários do Programa de Direitos Humanos (PDH) fizeram a monitoria do evento.


Fotos: Ana Paula Abrão