Semana dos Povos Indígenas analisa a vida urbana e oferece serviços

Com o objetivo de proporcionar inclusão e promoção da dignidade social aos indígenas, a PUC Goiás e o Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), em parceria com 25 interlocutores, dentre eles a Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds) e a Defensoria Pública de Goiás (DPE-GO), tornaram possível a realização de mais uma Semana dos Povos Indígenas, sediada na Área 2.

O evento, que ocorre há mais de 50 anos, esse ano pautou-se na temática ‘Autodeterminação dos povos originários no Brasil: desafios atuais e futuros” e sua abertura ocorreu na manhã desta terça-feira, 16. A programação se estenderá até o dia 19, sexta-feira, com uma série de atividades, que contemplarão, entre outras, mesas redondas, palestras, manifestos, feiras, mostras e exposições.

Antes da abertura oficial do evento, foi montada uma estrutura entre os auditórios da Área 2 oferecendo diversos serviços voltados aos indígenas, como emissão de documentos pela Seds (passaporte do idoso e carteirinha da pessoa autista), entrega de absorventes para as mulheres indígenas e até corte de cabelo. De acordo com a superintendente da igualdade social da Seds, Rosi Guimarães, o Goiás Social, um dos programas da secretaria, é que se mobilizou para estar presente na iniciativa.

O evento possibilitou acesso a um outro serviço de fundamental relevância: o registro civil dos indígenas. Presente na oportunidade e acompanhando os trabalhos, o defensor público coordenador do Núcleo de Direitos Humanos, Tairo Esperança, explicou que o nome é um direito constitucional, previsto em várias legislações e tratados internacionais e, para as pessoas indígenas, ele é essencial porque remete à própria cultura e elementos da tradição, como descendência, reconhecimento e pertencimento: “É muito comum, infelizmente, que a pessoa indígena seja registrada civilmente sem atenção a essas particularidades, então, ela não tem um prenome e sobrenome que usa em sua comunidade, por exemplo, porque às vezes nem existe na cultura indígena. Usualmente, eles utilizam a etnia para fazer essa referência (Karajá, Xavante), que são as que existem aqui no Estado de Goiás e vem se consolidando na jurisprudência o direito de permitir a alteração do prenome indígena e também do sobrenome para se referir à etnia”.

O defensor público ressalta que essa ação é uma forma de colaborar na reparação histórica do povo indígena, de modo a garantir acesso a um direito por essa população: “O nome não é só um detalhe, não é só um papel. Há quem subestime o fato de usar um nome e ter outro registrado, mas isso gera uma série de violações no cotidiano: ao abrir uma conta bancária, enviar uma correspondência, firmar um contrato… há um nome que ‘persegue’ e você não se reconhece nele. Com o registro civil adequado, a pessoa se reconhece como sujeito no próprio nome”, destaca.

Pesquisador incansável da cultura indígena, Marcos Costa, pertencente ao IGPA e professor do curso de Design, enfatizou que eventos como esse reforçam o protagonismo indígena, colocando-os como donos de suas lutas.

Outro aspecto ressaltado pelo professor e pesquisador foi a importância de se realizar a Semana dos Povos Indígenas no ambiente acadêmico por trazer a pauta indígena para cá: “A gente deixa de usar os indígenas como tema de pesquisa e passa a conviver com eles. Eles vindo até a universidade passam a perceber o potencial de ocupar esses espaços e estudar, desenvolver. Nós temos muitos indígenas fazendo cursos aqui, então, é muito importante para a universidade ir até a comunidade, prospectar o problema e trazê-lo para debate nas linhas acadêmicas. É importante na dimensão humana, de convívio. Esse é um momento de envolvimento”, refere.

Defensor de pautas relacionadas à luta pela terra e preservação da cultura indígena, o deputado Mauro Rubem esteve presente no abertura e destacou a importância da PUC Goiás na promoção de eventos como este: “Sou um grande defensor da PUC Goiás, não só pela dimensão de seu processo de ensino-aprendizado, mas também por dar destaque a pautas humanitárias como a indigenista, especialmente em Goiás e no Centro-Oeste. Essa é uma causa que a PUC Goiás abraça e mantém há décadas e esse tipo de evento é extremamente relevante e civilizatório”, afirma.

Uma das indígenas presentes no evento era Janira Pataxó. Encantada com o evento, ela o considerou muito especial: “Aqui as pessoas deixam a gente mostrar o que a gente é, a gente não pode esconder quem é. Hoje eu vou fazer o meu documento e agora eu vou ter o meu nome registrado”, disse emocionada.

A programação completa pode ser acessada depois de feito o cadastro por meio do link.

Fotos: Wagmar Alves