Pesquisadores da comunidade Kalunga se reúnem na PUC Goiás

O III Encontro dos Pesquisadores da Comunidade Kalunga foi aberto na manhã desta quinta-feira, 30, na Escola de Formação de Professores e Humanidades (Área 6), com a presença de representantes da comunidade Kalunga de Goiás e do Tocantins, docentes, gestores, autoridades do poder público, Universidade Federal do Tocantins e Associação Kalunga do Mimoso. Evento de iniciativa do Mestrado em História e Instituto Dom Fernando (IDF/Proex) da PUC Goiás, o intuito é discutir as questões de como as comunidades se inserem no processo de autoconstrução da identidade, sua relação com o território e como as tradições influenciam a memória e vida contemporânea.

“A comunidade Kalunga é um símbolo de todos esses elementos e que busca preservar, cotidianamente, sua identidade. Queremos, então, gerar essa discussão: de como a pesquisa feita na universidade impacta na comunidade, e sobre como podemos transformar o conhecimento em ações efetivas”, refletiu a coordenadora do Mestrado em História, profa. Thaís Alves Marinho.

Coordenadora do IDF, a profa. Beth Bicalho acolheu o público presente, ressaltando a relevância da comunidade para a história do País: “é louvável o resgate da história de um Brasil durante três séculos escravocrata, que exclui pessoas, mas com um povo guerreiro que mostra muita resistência”, pontuou.

Um dos ícones da história Kalunga em Goiás estava presente no Encontro: dona Procópia dos Santos Rosa, considerada como a matriarca da comunidade. Natural de Monte Alegre, e residente no Riachão, interior do estado, seus 84 anos refletem uma trajetória de muitas mudanças, além de ser um espelho da essência de sua comunidade. “Nós éramos um povo isolado. Não sabíamos o que era a cidade, minha mãe não viu a cidade”, rememorou. Em 2005, ela foi uma das 52 brasileiras indicadas para o Nobel da Paz. Entre as conquistas para seu povo, conseguiu levar a escola e continua na luta pela regularização das terras quilombolas: “enquanto os que estiverem ao meu lado não estiverem bem, não descanso”, disse.

O interesse na própria história e preservação da cultura também instiga a kalunga Wanderleia dos Santos Rosa, que atualmente é pesquisadora e realizou seus estudos na UNB, na área de Educação do Campo. Participante das discussões do Encontro, ela traz uma reflexão sobre as rezas nas festividades e no cotidiano do povo Kalunga: nos benzimentos, velórios, batizado em casa, casamento na fogueira, entre outras situações. “Depois de um tempo perdemos o único rezador que tínhamos e depois do seu falecimento, três mulheres assumiram essa missão. Só que percebemos que os jovens não tinham interesse em aprender, não eram incentivados pela família, então minha pesquisa vem dessa preocupação em resgatar a reza, este elemento principal na tradição festiva”, refletiu.

Diversos enfoques serão explanados por pesquisadores até amanhã, 31, nas mesas redondas do evento. Tatiana Novais, tecnologista em Saúde Pública da Fiocruz, fez uma pesquisa de doutorado, pela UFG, sobre o uso de álcool e outras drogas na comunidade Kalunga da região de Cavalcante. Além dessas questões, ela pesquisou sobre o abuso sexual ocorrido em festividades que reúnem milhares de pessoas na região. “Fizemos uma observação sistemática das festas para saber sobre o uso do álcool nas rezas, tanto a parte profana como sagrada. Trabalhamos a redução desses danos, além de fazer um alerta sobre a exploração sexual infantil”, pontuou a pesquisadora.

As políticas públicas implantadas nas comunidades quilombolas também serão outro assunto abordado durante o evento, que conta com a participação da superintendente Executiva da Mulher e da Igualdade Racial, Gláucia Teodoro. A abertura do Encontro também foi prestigiada pela pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da PUC Goiás, profa. Milca Severino e pelo coordenador dos programas de mestrado e doutorado, prof. Darlan Silvério.
A programação completa do evento pode ser conferida aqui.


Fotos: Weslley Cruz