Pesquisa analisa a comunicação digital de jovens brasileiros

O número de acessos na internet vem aumentando ano após ano, uma realidade potencializada após a pandemia de COVID-19. Segundo dados da Comscore, empresa de consultoria em marketing digital, o Brasil é o terceiro país em que mais se consome conteúdos em redes sociais no mundo, superando os Estados Unidos.

Plataformas como YouTube, Instagram e Facebook são as mais acessadas, prática que ocasiona um elevado número de horas dedicadas em frente à tela do celular ou computador. De acordo com a ElectronicsHub, empresa de serviços eletrônicos, em pesquisa realizada neste ano, os brasileiros passam em média 57% do seu tempo on-line. Uma realidade comum após a consolidação de uma cultura digital, levantada e propagada pelo público jovem.

A professora do curso de Jornalismo da PUC Goiás, Eliani Covem, buscou compreender, durante o isolamento social, os comportamentos de adolescentes e jovens brasileiros dentro do universo digital. “Estou on-line, isolamento pra quê? Como os jovens ficaram conectados no período de isolamento social”, pesquisa realizada ao longo de 2020, promoveu uma reflexão sobre como as interações no meio se alteraram devido à crise humanitária enfrentada recentemente.

Qual a dimensão da comunicação na vida desses jovens? Existe uma grande diferença nos níveis de envolvimento em relação aos familiares e pessoas fora desse vínculo? Foram perguntas estabelecidas como foco de análise.

Apesar de ter se passado três anos, os resultados da pesquisa ainda se apresentam válidos para os dias atuais. Um ponto essencial observado indica a necessidade constante dos usuários em estarem conectados, passando até 9 horas de total imersão em casos mais graves. Certo fato assinala a possibilidade da presença de um desvio comportamental que merece à atenção de estudos aprofundados no viés da Psicologia.

Eliani considera que as descobertas obtidas ao final do trabalho foram, no geral, positivas. Ela ainda se atenta à necessidade de se desenvolver uma nova investigação sobre as características atuais desses comportamentos.

“De certa forma, ao ficar horas conectado você deixa de realizar atividades off-line, como a convivência em família e a realização de uma atividade física. Mas ao mesmo tempo, ela nos liberta, porque proporciona um leque de possibilidades em diversas áreas do conhecimento. Muitos dos jovens entre 18 e 20 anos estão buscando uma vaga de trabalho, ou em alçar uma função superior para conquistar um salário maior”, explica.

O advento de uma nova estrutura social modifica a percepção das atuais e futuras gerações em relação ao mundo. A digitalização traduz novos estilos, pensamentos e identidades dentro das comunidades. Essa mudança nos rumos da sociabilidade tende a potencializar conhecimentos e formar opiniões consolidadas.

“Não só na pandemia, mas agora, a tecnologia abre muitas oportunidades de conhecimento e trabalho para os jovens. Os interessados em desenvolver uma carreira e um conhecimento sólido aproveitaram essas chances. Quanto mais conhecimento você adquire, melhor é a sua relação com as pessoas à sua volta. O que eu preciso para auxiliar a melhora do mundo? Os jovens também se preocupam com questões humanísticas, por exemplo. Eu penso que toda essa gama de conteúdo colaborou para abertura de novas maneiras de se relacionar, posicionar e aproveitar todas essas possibilidades para crescimento profissional e humanístico”, complementa.

A metodologia foi realizada através de um estudo de caso, estabelecendo um recorte de usuários entre 15 e 29 anos, residentes na cidade de Goiânia. Eliani também utilizou questionários para o levantamento de dados quantitativos e qualitativos. Além do emprego da Netnografia, método de pesquisa desenvolvido por Robert Kozinets que possibilita verificar o comportamento humano e suas variáveis dentro da internet, reiterando a presença de um universo totalmente distinto à vida fora dos aparelhos eletrônicos.

O projeto compôs o e-book “Centralidade da comunicação: esforços teóricos e novos cenários comunicacionais”. Lançado em 2022 pelo Centro Editorial e Gráfico da UFG (Cegraf). O livro é responsável por reunir diversas pesquisas desenvolvidas por alunos e docentes na academia. Organizado pelos professores Rogério Borges e Luiz Signates, o exemplar compõe a coleção “Observatório da Comunicação”, iniciativa do Observatório de Mídia que traz maior consolidação e amadurecimento teórico para os cursos de comunicação da universidade.

A pesquisadora

Eliani Covem é graduada em Jornalismo pela UFG. Especialista em Assessoria de Comunicação pela UFG. Mestre em Educação pela PUC Goiás. Doutora em Sociologia pela PUC Goiás. Foi coordenadora do curso de Jornalismo da PUC Goiás durante 5 anos e assessora de comunicação da Pró-Reitoria de Extensão e Apoio Estudantil (Proex). Atualmente Eliani leciona na universidade como professora assistente.

 

Texto: Juliano Cavalcante, estagiário da Dicom