Missa abre comemorações do centenário de nascimento do frei Confaloni

Pioneiro da arte moderna em Goiás, o frei Nazareno Confaloni foi homenageado na noite desta segunda-feira, 23, em missa realizada na Igreja São Judas Tadeu, no Setor Coimbra – local que ele ajudou a construir, na década de 1950. A celebração lembrou o centenário do nascimento do religioso, que se dedicou às artes plásticas e deixou um legado também na PUC Goiás. O italiano radicado no Brasil foi responsável pela criação da Escola Goiana de Belas Artes, em 1952, mais tarde incorporada a então Universidade de Goiás, onde também ministrou aulas e dirigiu o curso de Arquitetura e Urbanismo.

O reitor da universidade, prof. Wolmir Amado, explica que a celebração abre uma série de homenagens ao frei, morto em 1977. No dia 30, a partir das 20 horas, será aberta a exposição Centenário de Confaloni, com mais de 60 obras pertencentes aos acervos da PUC Goiás, da Sociedade Goiana de Cultura (SGC) e da Ordem dos Pregadores (Frades Dominicanos). A mostra ocorre na Área 3, na Praça Universitária. “Queremos fazer uma ampla homenagem. A presença de Confaloni foi decisiva na cultura, na arte e na educação. Ele formou toda uma geração de artistas que está atuando e trazendo sua contribuição (para a arte)”, destaca o gestor.

Além da missa e da exposição, uma obra publicada pelo frei, em 1960, será reeditada. “Essas iniciativas fazem parte de outras ainda mais amplas. Para este primeiro semestre, está se programada uma exposição internacional com as obras de Confaloni. Queremos fazer memória, fortalecer ainda mais a sua presença, e, sobretudo, olhar o passado com um sentimento de gratidão e, na recuperação da memória, nos projetarmos para o futuro”, afirma.

A missa
A cerimônia foi presidida pelo frei Lourenço Papin, que conviveu com frei Confaloni entre os anos de 1962 e 1973 e veio de São Paulo especialmente para a ocasião. “Vejo essa homenagem como uma expressão de saúde, reconhecimento e, sobretudo, de amizade da parte dos contemporâneos do frei, dos que o conheceram e o admiraram”, explica ele, que acompanhou o trabalho de Confaloni como sacerdote e artista plástico.

Ao comentar o legado religioso e artístico de Confaloni, frei Lourenço citou o jornalista Assis Chateaubriand, que o definiu como “bandeirante da arte moderna no Centro-Oeste brasileiro”. Também ressaltou que amigo “trabalhava com maestria a difícil e milenar arte do afresco, que poucos pintores brasileiros conhece”.

Após a missa, houve visita ao túmulo do frei que se encontra na própria Igreja São Judas Tadeu.

Influência
Sob a influência de Confaloni, uma geração de artistas goianos nasceu e se desenvolveu. No seu trabalho com a arte, o frei pintava a figura humana, trabalhando, principalmente, os temas sacros, realizando estudos artísticos em Florença, na Itália, onde se tornou frei dominicano.

Entre os artistas influenciados por ele, Siron Franco, que esteve na missa e lembrou a estreita relação que manteve com o religioso. “Ele é o precursor de todos nós, foi o primeiro pintor que chegou a Goiás. Foi um querido, grande amigo. Tive um grande privilégio de conviver com ele”, frisou, ressaltando a visão social incrível do religioso, que ajudou a construir a Igreja São Judas Tadeu. “Sinto muita saudade dele”, resume o artista, que em 1977 – ano do falecimento do frei – esperava o pintor na Espanha, para a inauguração de uma casa.

Biografia
Giuseppe Confaloni (Grotte di Castro, Viterbo, Itália, 1917 – Goiânia, 1977) é um religioso dominicano que iniciou seus estudos em 1922, na Escola Elementar de sua terra natal. Em 1923, ele viu surgir os primeiros sinais de sua vocação religiosa. De 1927 a 1933 estudou em diversas escolas e conventos dominicanos. Por algum tempo, em 1931, os padres dominicanos encaminharam-no à professora Briccola, com a qual aprendeu as primeiras lições de desenho. Em 1933, quando ingressou na Ordem Dominicana, em virtude da tradição da mudança do nome secular para o religioso, passou a chamar-se Nazareno Confaloni.

Dois anos depois, reproduziu, em óleo sobre tela, a pintura de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que se crê, seja uma de suas primeiras obras. Foi ordenado presbítero em 24 de setembro de 1939, em Fiesole. Datam dessa época uma série de xilogravuras, algumas hoje desaparecidas. De 1940 a 1941 frequentou a Academia de Belas Artes de Florença, quando conviveu com artistas de renome, sobressaindo por sua influência, Primo Conti, então titular de pintura da Academia. Profícuo em sua arte, participou de diversas exposições, não cessando de produzir.

Em Goiás
Em 1950, em Roma, quando encontrou dom Cândido Penso, bispo de Goiás, recebeu um convite para realizar os afrescos da Igreja do Rosário. Em outubro já se encontrava no Brasil e em janeiro de 1951 deu início à pintura dos afrescos intitulados Os Mistérios do Rosário. Em dezembro de 1952 tratava da instalação da Escola Goiana de Belas Artes, que seria aberta no dia 30 de março de 1953, tendo como fundadores Luís Augusto do Carmo Curado, Henning Gustav Ritter e o próprio frei. Com a criação da Universidade de Goiás (hoje PUC Goiás), a Escola Goiana de Belas Artes foi uma das sete faculdades que se juntaram para a sua formação.

Em 1965, a Escola aprovou a criação do curso de Arquitetura e Urbanismo, que passou a oferecer vagas em 1966, sob a direção de Amaury Menezes, aluno da Escola. Frei Confaloni foi diretor do curso de 1967 a 1968. Produziu sempre, pintando diversos painéis em Goiânia e no interior e realizou diversas exposições em Brasília, Goiânia e na Itália. A convite do professor Emílio Vieira, passou a integrar, em 1975, o Centro de Estudos Italianos, de Goiânia, ministrando aula de História da Arte. Preparava-se para participar da Mostra Itinerante da Arte Goiana na Europa, quando faleceu no dia 4 de junho de 1977.