Lançamento do caderno Conflitos no Campo 2022 reúne autoridades e movimentos sociais

Com o auditório 1 da Área 2 lotado de trabalhadores vinculados ao Movimento dos Sem Terra (MST), professores, pró-reitores e líderes políticos e religiosos, foi lançado, na manhã desta quinta-feira, 29, o caderno Conflitos no Campo 2022: uma análise das ocorrências em Goiás.

O evento contou com a presença e a participação de Dom João Justino, arcebispo metropolitano de Goiânia e grão-chanceler da PUC Goiás; Dom Waldemar Passini, bispo da Diocese de Luziânia; e de Dom Jeová Elias, bispo da Diocese de Goiás.

Também estiveram presentes, o membro da Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça de Goiás, Tárcio Freitas; o promotor de justiça do Ministério Público de Goiás, Márcio Toledo; o procurador de justiça do Ministério Público Federal, Wilson Rocha, e o membro da Comissão Pastoral da Terra (GO), Saulo Reis.

A publicação reúne e analisa dados registrados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno da Comissão Pastoral da Terra (Cedoc – CPT), sobre casos de violações de direitos de famílias, comunidades, povos e trabalhadores do campo ocorridos no Estado durante o ano de 2022.

No evento, foram apresentados os principais dados da publicação, que faz um recorte estadual dos dados do relatório anual da Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo Brasil 2022, lançado em 19 de abril deste ano, e foi apresentada uma análise sobre a realidade do Estado a partir dos casos registrados pelo Cedoc – CPT e acompanhados pela equipe regional da pastoral. Famílias de comunidades vítimas de violências também fizeram relatos sobre as ocorrências.

Porta-voz dos trabalhadores do campo reunidos na ocasião, Saulo Reis fez uma exposição detalhada sobre os dados obtidos e, no ensejo, falou sobre a importância da promoção de eventos como esse, por entender que oportunizam a denúncia das injustiças e violação de direitos humanos contra comunidades camponesas e da agricultura familiar, sejam elas quilombolas, assentados da reforma agrária, acampados da reforma agrária ou pequenos proprietários de terra.

“A perspectiva acadêmica favorece uma formulação mais abrangente sobre a sociedade na perspectiva de a gente superar essas injustiças”, defendeu.

Demais disso, Saulo destacou a relevância ímpar do apoio da igreja católica para a causa: “Contar com as autoridades presentes neste evento é reafirmar o compromisso da Igreja com a justiça e a valorização da vida. A gente espera que isso possa ampliar o debate sobre a violência no campo, porque infelizmente os dados apontam indícios de formação e ampliação de milicianos contra essas comunidades, principalmente, contra acampados da reforma agrária”, refletiu.

A violência em números

Em seu conjunto, os registros documentam o aumento no número e na gravidade dos conflitos no campo em Goiás no último ano. Em comparação com 2021, as ocorrências relacionadas à posse de terra aumentaram 17,85%, passando de 46 para 58 registros, e o número de pessoas ameaçadas de morte no campo triplicou, passando de duas para seis ocorrências em 2022, o maior número de registros deste tipo de violência registrado nos últimos 20 anos. Em quatro delas, as vítimas foram mulheres.

Outro dado assustador está relacionado às ocorrências de trabalho rural análogo à escravidão. Em 2022, 258 trabalhadores foram resgatados nesta condição, número que manteve Goiás, pelo segundo ano consecutivo, como o segundo Estado com o maior número de trabalhadores resgatados do trabalho escravo em todo o país.

A análise dos dados apresentada na publicação aponta que o aumento e agravamento das ocorrências estão relacionadas às pressões decorrentes da expansão da fronteira agrícola latifundiária do agronegócio sobre terras e territórios ocupados por comunidades e povos do campo em Goiás, o que também se configura como o grande fator de desmatamento do Cerrado no Estado.

A publicação, além de mencionar a ocorrência de conflitos, apresenta dados sobre ações de resistência das comunidades do campo e está disponível para download no site da CPT Goiás.

Fotos: Wagmar Alves