Projeto Memórias Indígenas é apresentado ao BNDES

Uma comitiva do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) visitou o Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) da PUC Goiás na manhã desta terça-feira, 18, para apreciar os produtos finais do projeto Memórias Indígenas: qualificação da coleção Jesco Puttkammer, que foi desenvolvido pelo Instituto, responsável pela guarda e proteção do acervo, com recursos do BNDES.

A coordenadora da iniciativa, profa. Marlene Ossami de Moura (IGPA), relembra que o trabalho começou em 2015 com o objetivo de qualificar as imagens registradas pelo documentarista Jesco, nas décadas de 1960 a 1970 no Xingu (Mato Grosso).

O diferencial da iniciativa é que a qualificação das fotografias foi feita pelos próprios grupos indígenas, que vieram à PUC Goiás para somar ao projeto e, assim, contribuir com suas narrativas.

É importante destacar que o trabalho de qualificação consiste na identificação, datação, nominação, localização e atribuição de significados contidas nas imagens.

“A partir do passado, os grupos indígenas ressignificaram e trouxeram para o presente o significado dessas imagens. Elas vão ficar para a sociedade e para as comunidades indígenas, onde eles contam as histórias do passado para as gerações futuras”, explicou a profa. Marlene.

Reencontro com os antepassados

Na primeira etapa do trabalho, no ano de 2017, a qualificação foi realizada pelos representantes das etnias Metyktire, Paiter Suruí, Cinta-Larga e Nambikwara e, em 2022, pelos grupos indígenas Wauja (Waruá) e Yudja (Jurunas).

Como o trabalho de qualificação é subjetivo, diversos momentos marcaram a experiência dos pesquisadores e grupos indígenas envolvidos no projeto, já que muitos deles reconheceram nas fotos alguns familiares que tiveram suas vidas ceifadas por epidemias de sarampo e gripe.

A professora Marlene, que esteve presente em todos esses momentos, relembra as cenas mais marcantes que testemunhou ao longo deste tempo.

“Eles viram nas imagens os antepassados felizes, com suas festas, rituais e seu modo de viver tradicional. Nós vemos a emoção deles, diante dessas pessoas que já faleceram. Nesse último grupo, me emocionou muito, quando eles entraram no acervo do Jesco e falaram: nós não conhecemos os nossos antepassados que estão nessas fotos, mas temos certeza que aqui nesta sala eles estão presentes agora, conosco”, relatou a pesquisadora, emocionada.

Como devolutiva à sociedade, o IGPA apresentou ao BNDES os produtos finais que dão visibilidade ao trabalho desenvolvido nos últimos anos. O Instituto publicou dois álbuns que apresentam as imagens qualificadas pelos dois últimos grupos; dois livros que explicam a proposta do projeto,  um vídeo com as narrativas indígenas e uma galeria de imagens, que será disponibilizada no site da PUC Goiás para consulta pública.

Devolutiva

Gerente do departamento de desenvolvimento urbano, cultura e turismo, responsável por zelar da parte relativa ao apoio ao patrimônio cultural brasileiro do BNDES, Patrícia Zendron, ressaltou a importância do projeto e o mérito da instituição em ter sido contemplada com um edital tão concorrido.

“Tivemos dois projetos aprovados. Um deles, é o projeto do edital de acervos, que foi selecionado em 2010, outro, é o projeto dentro do programa Matchfunding BNDS +, que teve campanha de financiamento coletivo e sucesso na captação e na qualificação de parte do acervo”, explica.

Patrícia assegura que, quanto ao acervo, não há qualquer ressalva a se fazer: “O acervo dispensa comentários. Tem reconhecimento nacional e é da maior importância, não só para as populações indígenas, mas para a formação do Brasil. É um patrimônio mundial também. É muito gratificante poder contribuir para que esse acervo fique catalogado e disponível para que outros pesquisadores possam acessar e para a comunidade em geral”, afirma.

Ela explicou, também, que o acervo passou por dois processos seletivos muito importantes: ele foi selecionado no edital de acervos, submetido à uma comissão de especialistas, tendo sido selecionado com destaque dentro dos concorrentes à época, no edital de 2010, e da mesma forma, no programa Matchfunding do BNDS+, concorrendo com quase 200 inscrições e selecionado entre os melhores projetos com posterior chancela da sociedade.

“Eu fiquei muito feliz de ver que não era só um reconhecimento de especialistas, de pesquisadores, que é muito importante, mas a gente conseguiu também construir o reconhecimento da sociedade como um todo, porque o programa tinha a previsão de ter também uma pulverização das doações, ou seja,  não bastava ter poucos apoiadores de grande porte, mas a gente também tinha a questão da pulverização, que atingia um reconhecimento social. A PUC Goiás foi muito vitoriosa por conseguir esse engajamento e financiar esse projeto junto com as populações indígenas. É muito gratificante. É muito bom ver, depois de acompanhar esse processo todo ao logo do tempo, a exposição etnográfica e conhecer a coleção audiovisual. Estou muito feliz hoje”, expressa.

Palestra sobre a importância do patrocínio em cultura e desenvolvimento científico

Encerrando os trabalhos propostos, ainda foi proferida palestra durante a tarde por Patrícia Zendron na Sala de Defesas, na Área 4, que reuniu a reitora da PUC Goiás, Olga Izilda Ronchi, a pró-reitora de Pós-Graduação e pesquisa, Milca Severino e diversos professores e alunos do IGPA.

Veja as fotos do evento

Na oportunidade, a professora Milca Severino destacou que a PUC Goiás é depositária de acervos importantíssimos e que o BNDES colaborou com a instituição financiando um grande projeto.

“Hoje a comitiva do BNDES veio fazer uma espécie de visita técnica para conhecer o nosso acervo e todos os produtos gerados nessa parceria com o Banco. É uma oportunidade singular para acrescentarmos novas parcerias”, informa.

Valorização da cultura 

A professora citou também que, nos 63 anos da PUC Goiás, a instituição tem se empenhado para valorizar a cultura, a educação, a ciência e a tecnologia e esse é mais um movimento neste sentido: “Nesse 8º Congresso de Ciência e Tecnologia, nós temos a felicidade de compartilhar com todos os estudantes, professores, comunidade científica do Brasil aquilo que se faz aqui em ciência, geração do conhecimento e socialização do conhecimento. É um momento muito bom”, destaca.

Muito satisfeita com a oportunidade de falar sobre tema de tão grande importância, Patrícia Zendron lembrou que o BNDES apoia o patrimônio cultural brasileiro desde 1997, o que, na verdade, é um investimento da maior importância e extrapola diversas dimensões.

“O investimento em cultura é multifacetado, então, a gente vê contribuições e até a partir da execução dos projetos a gente percebe impactos que não eram esperados inicialmente. Com o tempo, percebemos contribuições na área de educação de forma significativa para a transformação da vida das pessoas, com a geração de empregos e renda, e também a questão da identidade cultural das pessoas. É nesse mix complexo no qual as pessoas não capturam todas as dimensões é que está a riqueza desse trabalho”, esclarece.

Patrícia ainda registrou que esse tipo de evento oportuniza a divulgação e a oportunidade de diálogo com público qualificado, com os estudantes, que têm um poder de replicação enorme e diferenciado: “Eu parabenizo a PUC Goiás e o IGPA por promover esse tipo de debate que é fundamental para que a gente conquiste as novas gerações e veja as oportunidades que têm para desenvolvimentos futuros”, comemora.

(Texto: Belisa Monteiro e Marília Siqueira/ Fotos: Wagmar Alves e Weslley Cruz)

Fotos: Wagmar Alves