Campanha da Fraternidade é trabalhada com estudantes da Unati

Projeto de ação contínua do Programa de Gerontologia Social da PUC Goiás (PGS), a Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati) convidou o professor e ex-reitor da PUC, Wolmir Amado, para realizar uma palestra aos estudantes 60+ sobre o tema Fraternidade e Fome, que constitui a Campanha da Fraternidade desse ano. O encontro foi realizado na tarde da última quinta-feira, 2, no auditório da Escola de Formação de Professores e Humanidades, com o intuito de aproximar os discentes do primeiro semestre letivo ao movimento episcopal.

Durante a sua explanação, Wolmir compartilhou um pouco da sua primeira experiência com a campanha, ainda durante a infância no interior do sul do Brasil, e trouxe o tema da fome para promover uma reflexão com os 60+ acerca da injustiça social.

“A Campanha da Fraternidade quer atingir todas as idades, todos têm algo a fazer para enfrentar o desafio do problema da fome, e isso significa alcançar todas as faixas etárias. A criança pode colaborar, o idoso, o intelectual, o que tem pouca escolaridade. Enfim, todos têm algo a fazer, a contribuir, é por isso que a Unati dedicou a tarde de hoje para aprofundar e estudar o tema, também na perspectiva da fé”, comenta.

Questões como responsabilidade intergeracional, avanço no aspecto da redistribuição de bens, comunidades e seus aspectos foram abordadas através de um olhar voltado para a fé cristã. Buscando aproximar a religião com o tema tratado, foi realizada uma análise em conjunto da passagem do texto bíblico (Mt 14, 13- 21), que levou a uma compreensão integral sobre as situações e os problemas que a fome ocasiona para a sociedade.

“O idoso tem ainda mais vibrante e palpitante a espiritualidade, por isso é essencial olhar o problema também à luz da fé cristã. Esse olhar ajuda a sentir e compreender em mais profundidade a fome e a sentir-se convocado a superá-la. Nós quisemos na tarde de hoje, com a minha participação, levar essa motivação aos 60+, para que eles se envolvam nesta campanha da fraternidade e a compreenda em profundidade, pessoal e também em grupo. Queremos que eles possam, a seu modo, também construir soluções de colaboração e de superação a um problema tão grave para Goiás, para o Brasil e para todo o mundo”, ressalta Wolmir.

População 60+ em situação de rua

Coordenadora do PGS, Lisa Valéria, observa que a quantidade de idosos em situação de rua é alarmante, e precisa ser colocada em pauta nas principais campanhas e movimentos sociais que reivindicam políticas públicas efetivas. O número de pedintes 60+ aumentou consideravelmente durante a pandemia do novo coronavírus, urgindo a necessidade de abordar o tópico dentro das salas da Unati, desenvolvendo trabalhos internos que atendam, ao menos, o município de Goiânia.

‌“Uma das coisas que tem chamado bastante atenção da coordenação é o aumento significativo da população idosa moradora de rua, pedindo comida nos sinaleiros. Às vezes, eles não conseguem ficar em pé, sempre tem uma pessoa apoiando, ou eles ficam sentados nas ilhas e nas ruas. Isso nos fez refletir: Como nós da Unati, que fazemos parte de um programa de extensão, podemos contribuir com o nosso município? Não digo com o estado de Goiás, mas pelo menos com Goiânia, porque há o aumento significativo da população idosa nas ruas, pedindo comida. Então, todas as disciplinas desse primeiro semestre terão, dentro das suas especificidades, maneiras práticas de atuação para a campanha contra a fome”, analisa.

Lisa ainda buscou frisar os valores incorporados nos projetos de voluntariado da universidade. “Vale ressaltar, que temos uma preocupação em desviar nossas ações do estigma do assistencialismo, porque campanha não é somente isso. No primeiro momento, nós vamos trabalhar esse processo de reflexão com os alunos, para depois implementar com maior efusão nas disciplinas da grade, de acordo com as especificidades de cada uma delas. Queremos também pensar em ações práticas, tendo em vista essa realidade, do aumento significativo da população de rua/ pedinte ser 60+”, salienta.

A reunião possibilitou tratar sobre o tema da fome com os estudantes de uma forma mais íntima ao incluir a pauta dos idosos marginalizados. Muitos correm risco extremo de vida ao estarem submetidos à desnutrição, insegurança e falta de seguridade social.

Lisa Valéria também comenta sobre a importância de levar o professor Wolmir, sempre engajado com questões sociais, para o centro do debate. “Devido a Campanha da Fraternidade deste ano, o Programa convidou o professor Wolmir para falar um pouco sobre a Campanha no Brasil. Porque é muito importante para nós, rever que a questão da fome já foi pauta em outros momentos. Na atualidade, esse tema da fome está na agenda mundial, então é importante para nós, sair de um espaço macro, de mundo, e trazer a pauta para o Brasil, mais especificamente, para o estado de Goiás. Esse foi um dos motivos de trazer o professor Wolmir até aqui, refletir sobre essa questão da fome, e pensar em formas de ação”, declara.

Ao final da palestra, foram dedicados 5 minutos para a promoção de debates e exposições dos respectivos pontos de vista dos alunos e demais participantes.

Campanha da Fraternidade

A Campanha da Fraternidade teve início a partir da criação de uma experiência piloto em 1961. Criada por 3 padres que trabalhavam em um dos órgãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a primeira foi uma tentativa de arrecadação de recursos para financiar atividades assistenciais da instituição.

O primeiro movimento ocorreu durante o período da quaresma, em 1962, na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Desde então, as campanhas ocorrem nos 40 dias da quaresma, com ações beneficentes e sempre abordando temas de interesse público, como família, diversidade, educação, meio ambiente, paz, criança e saneamento básico.

Marcada por ser uma experiência original brasileira, a Campanha da Fraternidade volta a debater o tema da fome em 2023. Recentemente, o Brasil retornou para o mapa da fome. No final de 2021, pesquisas afirmavam que mais de 33 milhões de pessoas estavam em situação crítica no país, demonstrando ser um caso de calamidade pública.

A Campanha da Fraternidade inclui o tema mais grave para a humanidade no momento, e busca tratar a situação com ações baseadas em fé que priorizam a caminhada para ampliação da consciência, da manutenção da jovialidade e da conversão. O movimento vem para dizer que além de uma mudança pessoal, precisa-se construir uma mudança comunitária e social.

(Texto: Juliano Cavalcante, estagiário da Dicom)

Fotos: Weslley Cruz