Tese do prof. Wolmir Amado resgata papel da Igreja Católica na transferência da capital

Uma tese com enfoque inédito composta por 348 páginas, 17 páginas de referências bibliográficas, 240 notas de rodapé e documentos de fonte primária, compostos por fotografias e manuscritos, em sua maioria originais, será defendida pelo secretário-geral da Sociedade Goiana de Cultura (SGC), prof. Wolmir Amado, na próxima terça-feira, 11 de maio,  às 14 horas,  com transmissão pelo Google Meet. Na ocasião, o doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Goiás, apresentará a pesquisa intitulada A participação da Igreja Católica na transferência da capital federal do Brasil.

Escrita em quatro capítulos, a pesquisa começa com uma investigação sobre a presença da cristandade católica em Goiás, focada na autobiografia do bispo católico dom Eduardo Duarte, que revela um modo próprio de exercer a cristandade católica na região. O pesquisador também utiliza como fonte de inspiração para enriquecer o enfoque da tese, um sonho profético do fundador da Congregação Salesiana, Dom Bosco, ocorrido em setembro de 1883, no qual previa a construção de uma grande civilização no Planalto Central. Na época, a narrativa foi transcrita e, para o prof. Wolmir, ela representa um discurso político profético, já que ocorrera no século anterior à concretização da capital Brasília.

Considerando a importância dos sonhos para o Cristianismo, que estão muito presentes na tradição judaico-cristã e no Novo Testamento, os mais conhecidos nas passagens bíblicas que citam São José, o pesquisador faz uma análise política e psíquica do sonho de São João Bosco.

A partir dos arquétipos, vou identificando a narrativa onírica do sonho. Procuro fazer uma análise do uso político que se fez dele. Houve muitas resistências, no começo, das Regiões Sul, Sudeste e Leste, que não queriam a transferência da capital brasileira. Era preciso, portanto, de um discurso bem construído”, pontuou o professor, ao incentivar uma reflexão sobre o ponto de partida que fundamenta seu objeto de estudo.

O doutorando traz, ainda, uma discussão sobre as Constituições do Brasil e enaltece como a Igreja Católica teve um papel de protagonismo na transferência da capital federal, do Rio de Janeiro para Brasília. “Vivia-se um tempo histórico em que as ideologias políticas no Brasil não eram compactas. Dessa forma, o discurso religioso era muito relevante, de modo que o imaginário cristão assimilava esse discurso fornecido pela Igreja Católica de Goiás”, refletiu. Para o pesquisador o principal protagonista foi Cônego Trindade, que com apoio do até então arcebispo dom Emanuel Gomes de Oliveira, trabalhou a articulação da capital com os demais deputados do Brasil no Congresso Federal, além de ter proferido discursos importantes na Câmara Federal, que foram bastante decisivos para a persuasão dos demais políticos.

No último capítulo, o professor discorre diretamente sobre a construção e instalação da capital federal Brasília, no dia 21 de abril de 1960, durante o governo JK e também sobre a criação da Arquidiocese de BSB, desmembrada de Goiânia. Nesta parte da pesquisa, o professor resgata o trabalho pioneiro de dom Fernando Gomes dos Santos, que durante seu episcopado teve uma atuação primordial na instalação das sedes das igrejas e demais religiões no DF.

Ele é a representatividade da presença religiosa em uma capital que se constituiu inicialmente como laica, mas que foi ganhando espaços e terrenos ao longo dos anos. Essa presença é notada na Catedral Metropolitana de Brasília, na construção de diversas paróquias, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da Nunciatura Apostólica no Brasil, ligada ao Vaticano. “Tudo isso estava no Rio de Janeiro e dom Fernando teve este papel enquanto arcebispo. Assegurou esses espaços aos católicos e demais igrejas e religiões”, pontuou.

Como conclusão da pesquisa e apontando caminhos de reflexão prospectiva, Wolmir cita como o Concílio Ecumênico Vaticano II foi mudando a concepção de Igreja e a relação com o Estado brasileiro. Outros acontecimentos posteriores, como o Regime Militar no país, implantado em 1964, tornaram muito diferentes as relações com a Igreja, quando comparadas ao contexto pesquisado, referente ao final da década de 1950.

Por saber da existência de documentos inéditos sobre o tema e por querer dar sua contribuição à historiografia brasileira, o doutorando reflete sobre a essência e missão da pesquisa.

“É um modo de superar lacunas, mostrar uma história mais ampla, mais completa e mostrar, também, o protagonismo que a Igreja teve neste empenho para a transferência da capital federal. Embora tenha tido muitas outras frentes de luta pela criação de Brasília , considerando o governo de JK, se a Igreja não tivesse influenciado de modo decisivo durante uma década, possivelmente, a transferência da capital não teria ocorrido”, conclui o pesquisador.